Mapa fractal de Collatz na vizinhança de uma reta real" - belo mas indecifrável, sobretudo para quem não conhece a matemática (Foto: POKIPSY76)
Simples não significa fácil.
E este problema, um dos buracos negros da matemática, é prova disso.
Ele começa dando muitas possibilidades de como chamá-lo: talvez a denominação mais comum seja conjectura de Collatz, em referência ao matemático alemão Lothar Collatz, o primeiro a propô-lo, em 1937.
Mas é possível encontrá-lo como conjectura de Ulam (pelo matemático polonês-americano Stanisław Marcin Ulam), problema de Kakutani (pelo matemático nipo-americano Shizuo Kakutani), conjectura de Thwaites (pelo acadêmico britânico Bryan Thwaites), algoritmo de Hasse (pelo matemático alemão Helmut Hasse) ou problema de Siracusa.
E não é tudo: a sequência em questão também pode ser chamada de números de granizo ou números maravilhosos.
O nome mais descritivo talvez seja conjectura de 3n + 1.
Simplicidade complexa
Mas não é isso que desafia os matemáticos: seja qual for o nome, continua sendo o problema impossível mais simples de todos.
Mas não é isso que desafia os matemáticos: seja qual for o nome, continua sendo o problema impossível mais simples de todos.
Qualquer pessoa que saiba somar, dividir e multiplicar pode entender do que se trata, seguir a sequência de números e até tentar resolvê-lo.
Desde os anos 1930, contudo, ninguém conseguiu explicá-lo, prová-lo ou refutá-lo.
Em algum momento especulou-se que a conjectura pudesse ser uma estratégia soviética para distrair os cientistas.
Deste modo, antes de apresentar o problema, vale lembrar uma advertência de um dos matemáticos mais produtivos - e excêntricos - do século 20, o húngaro Paul Erdős:
"A matemática não está pronta para este tipo de problema (...) Absolutamente impossível."
Eis o problema:
Comece com um número natural inteiro qualquer (1, 2, 3, 4, 5...).
Comece com um número natural inteiro qualquer (1, 2, 3, 4, 5...).
Depois aplique essas mesmas regras simples ao resultado.
Comecemos com 10, que é par.
10 ÷ 2 = 5, que é ímpar, então aplicamos a segunda regra.
5 x 3 = 15 + 1 = 16.
Como é par... 16 ÷ 2 = 8
8 ÷ 2 = 4
4 ÷ 2 = 2
2 ÷ 2 = 1
Até aqui, simples.
O que torna o problema intrigante é que não importa com qual número comece, eventualmente sempre chegará a 4, que se converte em 2 e termina em 1.
Pelo menos é esse o caso com todos os números que foram testados, e já se tentou usar alguns quase absurdos.
Jason Davies, programador que faz excelentes visualizações de dados, criou um gráfico sobre a conjectura de Collatz: todos os números levam ao 1.
Supercomputadores fizeram o problema com números que vão até aproximadamente 5.764.607.500.000.000.000.
Todos eventualmente chegam a 2 ÷ 2 = 1.
Contudo, como os números são infinitos, isso não prova que esse seja o caso para todos os números naturais.
Mas como não se encontrou uma exceção, tampouco há provas de que não seja assim.
Outra questão é resolver o eterno por quê. Por que os números se comportam assim?
Granizo
O problema chega sempre ao mesmo ponto, não importa como.
O problema chega sempre ao mesmo ponto, não importa como.
A confusão é que na hora de resolvê-lo desenhando um algoritmo (sequência finita de regras, raciocínios ou operações que permite solucionar classes semelhantes de problemas), há pedras de gelo no caminho.
Como o granizo nas nuvens antes de cair, os números saltam de um lugar ao outro antes de chegar ao 4, 2, 1.
Uns mais e outros menos, sem sentido aparente.
Interações necessárias para chegar a 4, 2, 1 para os números de 2 a 10.000.000
A maior quantidade de escalas que faz um número inicial menor de 100 milhões para chegar a 4, 2, 1 é 986.
Mas enquanto a "viagem" é mais curta para os múltiplos de 2, outros levam mais tempo.
Um exemplo citado com frequência é a comparação entre os números 8.192 e 27.
O 8.192 leva 13 passos para chegar ao final aparentemente inescapável: 4, 2, 1.
O número 27 não apenas leva 111 passos para chegar, mas no caminho sobe até 9.232 antes de poder alcançar o 4, 2, 1.
A ausência de padrões dificulta ainda mais resolver uma conjectura já classificada como impossível.
Se o problema é quase impossível, vale a pena continuar tentando desvendá-lo?
Curioso e relevante?
Se o problema é tão difícil, e talvez impossível, vale a pena continuar tentando resolvê-lo?
"Quando passar dias ou semanas tentando, em vão, resolver um problema, pense no pobre Sísifo e em sua pedra", aconselhou o geometrógrafo Coxeter.
"Como (o matemático alemão) Felix Behrend diz ao final de seu livro, 'Sísifo e sua pedra são símbolos do homem e de sua eterna luta, incessante, inalcançável e, contudo, sempre triunfal. O que mais se pode pedir?'"
Poético, mas se isso não o convence sobre a importância de esclarecer esse mistério, recorramos aos especialistas do Mathematics Stack Exchange, site de perguntas e respostas para pessoas que estudam matemática em qualquer nível e profissionais de áreas relacionadas.
"Os matemáticos suspeitam que solucionar a conjectura de Collatz abrirá novos horizontes e desenvolverá novas e importantes técnicas na teoria dos números", disse Greg Muller.
"O problema de Collatz é suficientemente simples para que qualquer pessoa o entenda, e não se relaciona apenas com a teoria dos números, mas com problemas de decidibilidade, o caos e com fundamentos da matemática de computação. Melhor impossível", escreveu o usuário Matt.
"Outra razão é que, por ser fácil de apresentar e entender, tem potencial de atrair jovens para a matemática. Eu mesmo soube de sua existência no ensino médio e não resisti a seu encanto", comentou Derek Jennings.
Jason Davies, programador que faz excelentes visualizações de dados, criou um gráfico sobre a conjectura de Collatz: todos os números levam ao 1 (Foto: Jason Davies)
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