A Petrobras fechou o segundo trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 531 milhões, uma queda de 90% em relação aos R$ 5,3 bilhões obtidos no primeiro trimestre. O número divulgado pela estatal nesta quinta-feira também é menor que os R$ 5 bilhões registrados entre abril e junho do ano passado. O mercado previa um lucro líquido entre R$ 2,6 bilhões e R$ 4,6 bilhões no segundo trimestre do ano. Mas a companhia obteve o menor lucro para um segundo trimestre desde 2012, quando o ganho foi de R$ 1,3 bilhão. No semestre, o lucro líquido foi de R$ 5,8 bilhões, 43% abaixo do registrado nos seis primeiros meses de 2015.
Já a geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda, ficou em R$ 9,4 bilhões, o que representa um recuo de 29% em relação ao primeiro trimestre.
BENDINE: ‘ESTAMOS SATISFEITOS COM O RESULTADO’
Apesar de números tão baixos, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, ficou satisfeito:
— Estamos satisfeitos com o resultado operacional neste trimestre. Fizemos algumas mudanças, como o lançamento de alguns tributos que incidem no resultado líquido da empresa — disse Aldemir Bendine, presidente da Petrobras.
Foram três eventos, segundo Bendine, que afetaram o resultado líquido. Além das baixas contábeis, houve o pagamento de ações relativas ao pagamento de tributos.
— Tínhamos ações relativas de pagamento de IOF entre 2007 e 2010. Não havia provisão para isso. A tese que defendíamos era frágil para continuar por via judicial. O valor dessa ação era de R$ 3,3 bilhão e conseguimos reduzir para R$ 1,6 bilhão. Uma parte foi paga por caixa; e outra, por prejuízo fiscal. Há outras três ações em curso. E assim lançamos provisão de R$ 2,6 bilhões enquanto aguardamos a decisão — afirmou o presidente da estatal.
O executivo destacou ainda que, ao fazer o plano de negócios, variáveis comprometeram uma série de ativos na área de gás e energia.
— Ativos nos quais não conseguimos ter recursos para continuar, nos imputou a cancelar alguns empreendimentos. E por isso hibernarmos esses projetos — disse Bendine.
Questionado se a Petrobras estava pagando os valores referentes aos processos tributários para o governo aumentar o superávit fiscal, Bendine foi taxativo:
— Superávit é um problema do Tesouro. Ninguém está aqui para fazer caixa para o Tesouro. Vamos pagar se for vantajoso — disse Bendine.
PERDAS COM DEFASAGEM
A baixa contábil de R$ 1,3 bilhão e o reconhecimento de despesa tributária referente a IOF no valor de R$ 3,9 bilhões explicam a queda tão forte no lucro líquido, segundo o analista independente Flavio Conde, do blog What´s call. Ele esperava o reconhecimento de despesa tributária de R$ 1,7 bilhão.
Esses dois fatores também explicam por que o resultado ficou tão abaixo do esperado pelos analistas, que não apostavam em novas baixas contábeis. A desvalorização cambial de 40,1% entre o segundo trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano também tiveram influência. Pesou ainda a queda do preço do petróleo no mercado internacional.
No segundo trimestre deste ano, a Petrobras voltou a ter prejuízos com a venda da gasolina no mercado interno, já que o preço vendido nas refinarias do país pela Petrobras voltou a ser menor do que a estatal paga no mercado internacional. Isso ocorreu por conta da valorização da moeda americana e também pelo aumento de preços da gasolina no Hemisfério Norte devido ao período de verão.
Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), de abril a junho deste ano, a gasolina foi vendida pela Petrobras 6,8% mais barata do que paga no exterior. Já com o diesel, a Petrobras ainda tem margem positiva: a estatal vende no país com um preço 8,6% maior do que compra no exterior.
Segundo a empresa, o lucro reflete “as maiores despesas operacionais, compensadas parcialmente pelo maior lucro bruto”. No primeiro semestre do ano, as despesas operacionais somaram R$ 25,2 bilhões, como a despesa tributária de R$ 3,9 bilhões (IOF sobre operações de mútuo com empresas no exterior) e de R$ 1,3 bilhão, referente a novas baixas contábeis de ativos neste segundo trimestre. De acordo com a empresa, essa baixa se refere a projetos que ficaram sem orçamento.
Mario Jorge Silva, gerente da estatal, destacou ainda as perdas financeiras de R$ 11,7 bilhões, com alta da despesa com variação cambial e com o aumento de juros e o pagamento de R$ 1,3 bilhao referente ao pagamento de juros sobre despesas financeiras de IOF.
— O lucro do segundo trimestre foi de meio bilhão de reais, pois todos esses descontos foram feitos nesse período — Silva.
REAJUSTE DE PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS
O economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, acredita que, se continuar a defasagem dos preços da gasolina nos próximos meses, se abre espaço para o governo autorizar um reajuste de preços dos combustíveis ainda este ano. Segundo Thiago, somente em julho a gasolina foi vendida a um preço 8,5% inferior ao mercado internacional, enquanto o diesel ainda estava 16% mais caro.
— Enquanto a Petrobras continua se beneficiando com a venda do diesel, que mantém um cenário favorável de preços, a venda interna de gasolina segue com defasagem, principalmente com o processo de desvalorização do real. O retorno da defasagem do preço da gasolina indica que talvez haja a necessidade de um novo reajuste de preço no combustível até o final de 2015 — destacou Thiago Biscuola.
Atualmente, a defasagem com o preço da gasolina está em 7,3%. Já o óleo deisel está sendo vendido no país cerca de 20,3% mais caro, segundo o CBIE. Mas, na média do primeiro semestre, o preço da gasolina vendida no país ficou 6,6% acima da média dos preços internacionais e o óleo diesel 17,1% acima dos preços internainais.
Após cinco meses de atrasos e expectativas, a Petrobras divulgou em abril último o balanço auditado de 2014. A companhia registrou no ano passado um prejuízo de R$ 21,6 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013. O resultado negativo se deveu, principalmente, à baixa contábil de R$ 6,2bilhões, referentes a perdas estimadas com corrupção entre ex-funcionários da companhia e fornecedores descobertos pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal. No balanço do ano passado a Petrobras ainda fez uma baixa contábil de R$ 44,6 bilhões referentes a prejuízos estimados em vários projetos por má gestão, câmbio, entre outra coisas. Já no primeiro trimestre deste ano.
O Globo
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