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domingo, 25 de novembro de 2012

Os Caçadores de Botija



Pedro Nunes destaca talento de atores que nascem do povo e vivem nas comunidades interioranas

Acompanho a trajetória desses artistas anônimos de Alagoa do Monteiro, desde os primeiros passos. É assim que um grupo aprende. É assim que surgem talentos e se ganha experiência. Nenhum artista popular recebe ensinamentos de arte. Os Caçadores de Botija vivem se cozendo com as próprias linhas. Sem mestres, sem meios, sem espaço, criam personagens incríveis, mas todos encontrados iguaizinhos na vida real.

Como se trata de um grupo que nasceu do povo e vive no meio das comunidades interioranas, suas histórias têm raízes na cultura popular e são enriquecidas com a poética e musicalidade da região, tesouros singulares.
 Gosto de tudo o que tem cheiro de povo, porque traduz a alma de nossa gente. Fujo dos lugares comuns, da imitação. Aprecio o que não se repete. Os Caçadores de Botija são autodidatas. Inclusive, Paiva, o diretor.

Aprendem pensando, fazendo e penando. Ralam mesmo! Como dizia Camões: "Não se aprende, Senhor, na fantasia/Senão vendo, fazendo e pelejando".  Pelejem que vocês ganham mais e mais visibilidade e um dia chegam lá também.

Aposto em vocês porque sei que existe muito talento adormecido na alma dessa gente simples que anda de alpercata de rabicho nas estradas poeirentas dos nossos Sertões. Vocês são autênticos intérpretes do homem simples que vai e vem em busca do desconhecido. Poquito, Beato Vicente, Seu Chiquinho, Pinguim, Figo e Zé Cego, que personagens incríveis! Não os conheço pessoalmente, exceto um que na vida real se chama João Badalo.

Sobre este, posso dar o seguinte testemunho: é sábio, sem livros. Letrado, sem escola. Pobre, mas honrado. Igual a todo artista popular, sobrevive do nada, respira o pouco oxigênio que a vida libera em doses homeopáticas para quem vive do labor artístico. Popular, é claro! Porque os artistas dos palácios, dos grandes palcos e das elites, esses nadam em riqueza. 

Causa que são raridades, os Caçadores de Botija granjeiam admiração, fazem amigos, abrem portas. Simples, mas abrem!

Em tempos de secas medonhas, esses artistas hibernam feito fossem sapos, sem serem. Para economizar energias, mal respiram, até que pingos de prata caiam dos céus para alegria deles e dos homens do Sertão que as terras andam sem nunca perderem a esperança e a paixão por este recorte geográfico miraculoso.

Iguais a esse que se chama Badalo, são os demais atores. Cada um, com sua personalidade exuberante, rica em sabenças das coisas do povo e da vida sertaneja. Beleza de gente! Riqueza de terra essa minha, que se chama Parahyba do Norte!

Vitrine do Cariri

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