Acompanho a trajetória desses artistas anônimos de Alagoa
do Monteiro, desde os primeiros passos. É assim que um grupo aprende. É assim
que surgem talentos e se ganha experiência. Nenhum artista popular recebe
ensinamentos de arte. Os Caçadores de Botija vivem se cozendo com as próprias
linhas. Sem mestres, sem meios, sem espaço, criam personagens incríveis, mas
todos encontrados iguaizinhos na vida real.
Como se trata de um grupo
que nasceu do povo e vive no meio das comunidades interioranas, suas histórias
têm raízes na cultura popular e são enriquecidas com a poética e musicalidade da
região, tesouros singulares.
Gosto de tudo o que tem cheiro de povo, porque
traduz a alma de nossa gente. Fujo dos lugares comuns, da imitação. Aprecio o
que não se repete. Os Caçadores de Botija são autodidatas. Inclusive, Paiva, o
diretor.
Aprendem pensando, fazendo e penando. Ralam mesmo! Como dizia
Camões: "Não se aprende, Senhor, na fantasia/Senão vendo, fazendo e pelejando".
Pelejem que vocês ganham mais e mais visibilidade e um dia chegam lá também.
Aposto em vocês porque sei que existe muito talento adormecido na alma
dessa gente simples que anda de alpercata de rabicho nas estradas poeirentas dos
nossos Sertões. Vocês são autênticos intérpretes do homem simples que vai e vem
em busca do desconhecido. Poquito, Beato Vicente, Seu Chiquinho, Pinguim, Figo e
Zé Cego, que personagens incríveis! Não os conheço pessoalmente, exceto um que
na vida real se chama João Badalo.
Sobre este, posso dar o seguinte testemunho: é sábio,
sem livros. Letrado, sem escola. Pobre, mas honrado. Igual a todo artista
popular, sobrevive do nada, respira o pouco oxigênio que a vida libera em doses
homeopáticas para quem vive do labor artístico. Popular, é claro! Porque os
artistas dos palácios, dos grandes palcos e das elites, esses nadam em riqueza.
Causa que são raridades, os Caçadores de Botija granjeiam admiração,
fazem amigos, abrem portas. Simples, mas abrem!
Em tempos de secas
medonhas, esses artistas hibernam feito fossem sapos, sem serem. Para economizar
energias, mal respiram, até que pingos de prata caiam dos céus para alegria
deles e dos homens do Sertão que as terras andam sem nunca perderem a esperança
e a paixão por este recorte geográfico miraculoso.
Iguais a esse que se
chama Badalo, são os demais atores. Cada um, com sua personalidade exuberante,
rica em sabenças das coisas do povo e da vida sertaneja. Beleza de gente!
Riqueza de terra essa minha, que se chama Parahyba do Norte!
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