O Conselho Estadual de Cultura homologou o resultado final do Edital da
Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e concedeu, em caráter legítimo e
definitivo, o registro de ‘Mestre das Artes Canhoto da Paraíba’ à Maria José do
Nascimento (Mestre Zefinha), Francisco Alves (Coroné Chico Tripa) e José
Hermínio Caieira. O resultado foi anunciado após análise de mérito cultural e
idoneidade das candidaturas de competência do referido Conselho. A chamada
pública visou a ocupação das vagas disponíveis para pessoas que tivessem
conhecimento e técnicas necessárias para a produção e preservação da cultura
tradicional do Estado da Paraíba. A homologação foi publicada no Diário Oficial
do Estado no dia 26 (sexta-feira).
A presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), Lu Maia, também
membro do Conselho Estadual de Cultura, relatou que dentro do Conselho foram
realizadas inúmeras reuniões com a pauta dos novos mestres e que até foi nomeada
uma Comissão Setorial para focar somente no tema, a qual ela foi indicada como
coordenadora. “Participamos desde o processo do regulamento do Registro e a
Coordenação se resumiu a reunir os integrantes e distribuir entre eles os 18
processos de indicação de nomes”, explicou Lu Maia.
A coordenadora disse que para deixar a escolha mais concreta, transparente e
democrática, todos os membros da Comissão foram pessoalmente ao local onde
viviam os indicados, que incluíam várias cidades da Paraíba. “Até para não
errarmos, fomos ao local, decidimos avaliar não somente o papel. Nesse processo,
eu chorei, ri com todos eles. Encontramos pessoas trabalhando, outras doentes.
Não é fácil atender toda uma demanda de artistas que estão à margem das
políticas públicas de cultura. Infelizmente, só temos três vagas disponíveis no
momento”, relatou Lu Maia.
Dessas 18 indicações, foram escolhidos três artistas. De acordo com o
Conselho, o processo foi o mais transparente possível e baseado nas premissas da
lei que rege o Edital. Ao todo, o Registro Mestre das Artes é formado por 30
nomes e uma vaga surge apenas quando um dos membros vem a falecer. Após o
registro, o novo componente passa a receber uma ajuda de custo referente a dois
salários mínimos e se compromete a repassar o conhecimento de sua arte.
Lu Maia acrescenta que dentre os critérios, os mestres teriam que ter um
tempo significativo dedicado a sua arte e ter vontade de repassar este
conhecimento. “A ajuda de custo é apenas um auxílio. O mestre tem que estar apto
a repassar o conhecimento, até para que sua arte não morra com ele – esse é o
principal objetivo. Eles ficam livres para fazer isto da forma que puderem e
souberem. Certamente esse conhecimento é prático e vem de uma herança da cultura
popular, de sua identidade cultural, de herança familiar...”, disse a
coordenadora da Comissão.
Requisitos – De acordo com o Edital, foram partes legítimas para provocar a
inscrição do processo de Registro no Livro dos Mestres das Artes: a Secretaria
do Estado da Cultura; a Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba; o Conselho
de Proteção dos Bens Históricos Culturais (Conpec); as entidades sem fins
lucrativos, sediadas no Estado da Paraíba, que estejam constituídas há pelo
menos um ano e que incluam, entre as suas finalidades, a proteção ao patrimônio
cultural ou artístico estadual. O próprio candidato não poderia
autoinscrever-se.
Os requisitos para a inscrição eram: estar vivo; ser paraibano ou brasileiro
residente no Estado da Paraíba há mais de vinte anos; ter comprovada
participação em atividades culturais há mais de vinte anos; estar capacitado a
transmitir seus conhecimentos ou suas técnicas a alunos ou aprendizes. Para a
concessão do registro, foram apreciados: relevância da vida e obra voltadas para
a cultura tradicional da Paraíba; reconhecimento público das tradições culturais
desenvolvidas; permanência na atividade e capacidade de transmissão dos
conhecimentos artísticos e culturais; larga experiência e vivência dos costumes
e tradições culturais; situação de carência econômica e social do
candidato.
Perfis - Maria José é uma artesã residente de Pitimbu e trabalha com fibra de
coco. Francisco Alves mora em Bayeux, trabalha com cultura popular e também é
conhecido como “quadrilheiro”, por trabalhar com quadrilhas de dança. José
Hermínio é um senhor de 84 anos, mora em Santa Rita, também trabalha com cultura
popular e é conhecido como “rabequeiro”, por tocar a rabeca. Todos eles têm
cerca de 50 anos de contribuição às artes. Saiba um pouco mais sobre os novos
mestres.
Mestre Zefinha - Dona Maria José do Nascimento, mais conhecida como Mestre
Zefinha, 66 anos, reside na Praia de Pitimbú e há 45 anos trabalha com
artesanato. “Desde os meus 22 anos trabalho com a fibra de coco e nunca imaginei
que nessa altura da vida eu fosse ter um presente deste bem próximo ao meu
aniversário, que é dia 02 de novembro”, destacou, emocionada.
Todo o material recolhido pela artesã é extraído de locais próximos, como a
Praia de Acaú, distrito de Taquara e até do Conde. “Eu pago para alguém subir e
retirar as palhas porque não tenho mais idade pra isso. Depois eu limpo, passo
água e com ajuda de uma faca e tampa de latas faço fruteiras, frutas, animais,
chapéus, bolsas e finalizo o acabamento com verniz, cola e pincel”, explica a
nova mestra.
Mestre Zefinha costuma participar de feiras de artesanato durante todo o ano,
em João Pessoa. Na Praia de Pitimbú, recentemente ela conseguiu colocar um
quiosque na praça para vender seus produtos. Sobre o prêmio, ela diz: “Eu fiquei
muito feliz com o convite, chorei de alegria. Eu vou poder ter uma vida mais
digna agora, pagar minhas contas em dia e comprar minhas coisinhas. Além disso,
vou passar a fabricar mais e investir no meu quiosque”.
Coroné - Francisco Alves, 82 anos, é mais conhecido como “Coroné Chico
Tripa”. Natural da cidade de Areia, desde 1954 mora em Bayeux, onde foi marcador
de quadrilha junina e de escolas de samba. Nessa atividade de quadrilheiro, ele
já foi apelidado de vários nomes. Seu primeiro “batizado” foi de José Bedeu,
depois Zé Bode, Coroné Fredegoso do Ó, e por último, Chico Tripa, porque vendia
essas partes do boi na feira.
Atualmente, é presidente da Federação das Quadrilhas do Estado da Paraíba,
com sede em Bayeux, tendo recebido ao longo da sua vida mais de 60 troféus e o
Título de Cidadão de Bayeux. Apesar de ainda brincar - como ele mesmo fala - e
marcar quadrilha, ele repassou um pouco da sua experiência e tradição para o
filho Wesley Cardoso Alves, o Coronel Falcão.
À frente da tradicional Quadrilha Fazenda Nova, de Bayeux, com 46 anos de
existência e 48 componentes, ele diz ter ficado muito feliz com o reconhecimento
do Governo do Estado por seu trabalho. “Em nenhuma época, em nenhum Governo, o
artista paraibano foi tão valorizado. Quando eu soube da notícia eu não
acreditei, pois eu achei que fosse chegar ao fim da vida sem ser valorizado. Não
é somente eu que ganho não, é a quadrilha e, principalmente, a preservação da
cultura local genuinamente paraibana”, destacou.
José Hermínio – José Hermínio Caieira é membro do Cavalo Marinho de Mestre
Messias, rabequeiro dos grupos de Cavalo Marinho do Mestre Gasosa, Mestre
Zequinha, Mestre Paulo e Mestre Jovelino. É também artesão, criador e membro do
grupo de forró “Zé Hermínio e Seu Conjunto”. Já participou do CD “Música de
Rabequeiros”, coletânea que reúne os mais importantes músicos dessa área no
Brasil, tais como: Antônio Nóbrega, Siba, Cego Oliveira, Nélson da Rabeca e
Maciel Salustiano.
Fonte: Secom-PB